terça-feira, 19 de janeiro de 2010

MEU LIVRO LONDRINENSES NA PRAÇA!


Na última sexta-feira realizei o lançamento do meu primeiro livro de contos "Londrinenses" pela editora E-lektra & Kan, com patrocínio do Promic. O lançamento aconteceu no recinto da Biblioteca Pública Municipal, local que sempre achei ideal para lançamentos por ter um excelente astral e estarmos perto de livros. Meu agradecimento especial ao Rovilson, que foi de uma eficiência e gentileza para com o meu modesto trabalho. Não vou conseguir recordar e nomear todos os amigos que lá estavam. Aliás a presença de quase 70 pessoas num preguiçoso janeiro chuvoso de Londrina me deixou super feliz. Como me esqueci de fazer um pequeno discurso naquela noite, deixo aqui o meu agradecimento a cada um de vocês que compareceram. Obrigado ao meu "chefe" Artur Boligian Júnior, profissional exemplar, mestre de jornalismo, que me convidou e instigou a escrever contos para a nossa querida Folha Norte de Londrina, coisa raríssima na mídia impressa local e nacional. Obrigado também à nova direção da Folha Norte, em especial ao Bruno e a Vera Barão que lá estiveram. Valeu pela força! Agradeço ainda à minha querida Jacqueline pela organização, ao meu filho, que me ajudou nas dedicatórias e achou o lançamento "legal", a Ana Paula Carvalho Lopes minha estimada aluna dos tempos da Escola Municipal de Teatro pelo magnífico coquetel, e a força e camaradagem da minha amiga e irmã Juliana Boligian, é claro. Meu agradecimento especial e imprescindível ao Marcos Losnak e ao Beto por terem realizado um belo trabalho editorial.

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Aproveito para postar a matéria que o jornalista e cronista Paulo Briguet escreveu para o Jornal de Londrina, a qual me deixou honrado pela generosa leitura que, em vários momentos, é pura poesia. Obrigado, Briguet!


A ARTE DE CAMINHAR PELA CIDADE

Paulo Briguet

Todo livro tem seu tempo, seus personagens e seus lugares. Londrinenses, de Maurício Arruda Mendonça, fala sobre o tempo, os personagens e os lugares de uma cidade que acabou de completar 75 anos. O livro reúne 14 contos e tem o cenário de Londrina como eixo gravitacional. Organizadas em ordem cronológica, as histórias atravessam meio século de história: dos anos 30 aos 80. O lançamento do livro acontece hoje, a partir das 20 horas, na Biblioteca Municipal, perto de vários símbolos locais que aparecem nas narrativas do autor: o Relojão, o Bosque, a Avenida Paraná, o Ouro Verde, o Edifício Júlio Fuganti.
O título do livro ecoa Dublinenses, de James Joyce, obra em que o autor irlandês iniciou a mitificação de sua cidade natal, Dublin. Maurício confirma a referência a Joyce, mas seus contos também lembram Winnesburg, Ohio, de Sherwood Anderson; Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe; e A vida como ela é, de Nelson Rodrigues. Poeta e dramaturgo, o escritor londrinense mergulha no universo das histórias curtas com conhecimento de causa: ele sabe dialogar com as diversas influências sem perder a voz literária individual.
Compaixão, humor, ironia, nostalgia e capacidade de observação marcam as narrativas de Londrinenses. O autor mistura personagens reais e imaginários da história da cidade, provocando um efeito curioso: os reais parecem fantasmagóricos e os imaginários parecem de carne e osso. A precisão jornalística se combina com a imaginação poética – e é muito difícil fazer uma coisa sem perder a outra.
Escritos originalmente para a publicação em jornal (o semanário Folha Norte, em 2007 e 2008), os contos de Maurício Arruda Mendonça passam da linguagem de jornalismo policial antigo para o coloquialismo caipira, e em seguida para as gírias de época. De repente, vem uma descrição assustadora: “Dr. Müller, emérito cirurgião, acertou tiros precisos. O primeiro, no joelho, para provocar dor na vítima; o segundo na direção da alça esquerda do intestino; o terceiro, na parte baixa do pulmão direito; e o último, de raspão, na virilha”.
Ler Londrinenses é fazer uma caminhada pelo espaço e o tempo da cidade: visitamos o túmulo anônimo do Cemitério São Pedro; passamos pela oficina dos irmãos na Quintino; entramos na boate da Vila Matos; escapamos do Cadeião da Sergipe; chegamos à casa de chá dos Fuganti; observamos o casal de mãos dadas; voltamos à república na Rua da Carioca. E tudo volta ao início – como os ponteiros do Relojão.

JL: Por que escrever sobre Londrina?

Maurício Arruda Mendonça: Eu queria poetizar o espaço em que a gente vive. Imaginar histórias que ocorressem neste lugar. Daí a epígrafe de Lévi-Strauss, com a ideia de que aspectos inconscientes permeiam a cidade. De repente, alguém poderá passar por determinada rua de Londrina e associá-la a um dos contos. Eu tinha o desejo repovoar o nosso espaço com histórias.


Qual é a principal referência literária de Londrinenses?

A mais importante é o Nelson [Rodrigues]. Fiz um exercício de estilo em alguns contos, até porque os escrevi para jornal (Folha Norte). Pela velocidade da escrita, eu apliquei a fórmula criativa nos contos do Nelson. Sempre gostei de escrever devagar. Mas, para jornal, é preciso escrever rápido. Nestes contos, eu me preocupei mais com a linha formal da história – começo, desenvolvimento e conclusão. Foi bom, porque eu apurei a minha velocidade de produção literária. Com pesquisas em livros, jornais e processos eu busquei me adequar à linguagem de cada época.

Entre os contos que saíram em jornal e as versões reunidas no livro, houve muitas mudanças?

Reformulei alguns contos que tinham problemas formais. Rebusquei alguns trechos, ampliei algumas narrativas. Os títulos variam também. Na verdade, escrevi 20 contos para o jornal; levando em conta a opinião de outras pessoas, escolhi os 14 que considerei formalmente melhores. No livro, os contos estão ordenados por décadas: dos anos 30 aos anos 80.

Você fez pesquisas e entrevistas para escrever os contos?

Conversei com muitas pessoas. Sempre tive curiosidade. Também havia feito matérias sobre a história de Londrina e pesquisas para publicações sobre o GPT [Grupo Permanente de Teatro] e o Filo. Gosto muito de pesquisar jornais e livros antigos. E fui me abastecendo com o imaginário sobre lugares da cidade.



Qual foi o papel das suas memórias pessoais no livro?

Nasci em Londrina, tenho 45 anos. Morei muitos anos na Vila Higienópolis. O conto O fantasma da Rua Antonina de certa forma é verídico. Existia aquela casa – e as pessoas relatavam fenômenos estranhos que aconteciam lá. Lendo um processo-crime da época, encontrei um abaixo-assinado em que eu reconhecia os nomes de todos os moradores da vila. Conheci a casa, ouvi as histórias sobre ela desde moleque. Muitas histórias do livro são casos reais transformados em ficção. E o que mais parece inventado – é verdade. O túmulo número 1 do Cemitério São Pedro, por exemplo, está lá, existe.

[Jornal de Londrina 15-01-2010]