domingo, 13 de março de 2011

TEMPORADA MEDUSA DE RAY-BAN



OS ÓCULOS DA VIOLÊNCIA

Nova montagem da peça Medusa de Rayban, de Mário Bortolotto, estreia na quinta-feira, com direção de Maurício Arruda Mendonça e supervisão de Paulo de Moraes.

15/03/2011 – Jornal de Londrina

Fábio Luporini

A deusa grega mortal que tinha serpentes no lugar dos cabelos possuía um poder especial: um olhar que tornava pedra quem a encarasse. Assim como o olhar petrificante de Medusa, a violência choca e paralisa quem se presta a encará-la. Nesta analogia o dramaturgo Mário Bortolotto foi buscar inspiração para a peça Medusa de Rayban, escrita em 1996, encenada inúmeras vezes e já premiada. A deusa grega ficou só na referência, deixando a cargo de dois personagens, que são assassinos de aluguel, a missão de criticar de forma bem-humorada o jeito que o ser humano lida com o problema da violência.
Agora, os dois assassinos de aluguel que convivem com a violência voltam aos palcos londrinenses numa remontagem do poeta e dramaturgo Maurício Arruda Mendonça, que dirige o espetáculo, com a supervisão geral de Paulo de Moraes, do Armazém Companhia de Teatro. “É uma fábula sobre a violência constituída por um texto fragmentado, com esquetes sucessivas”, explica o diretor. A peça trata de dois amigos cujo ofício é matar por encomenda. “Um deles está se despedindo da profissão. O texto é uma investigação sobre a violência, de forma cômica, e que narra essa ligeira crise de um dos assassinos de aluguel, que desiste dessa vida de cometer crimes”, comenta.
A referência à Medusa, que não aparece como personagem, dá ao espectador a possibilidade de interpretações acerca da violência. “É como se a violência fosse nosso olhar desavisado perante a agressividade humana, que acaba nos petrificando e nos tornando pessoas violentas”, ressalta Mendonça. Talvez fique paralisado o indivíduo que encara de perto as situações de violência do cotidiano, paralisando ante as causas. “Essa relação é deixada a critério do espectador porque possibilita várias leituras”, aponta. Em uma delas, “o criminoso em si é quem encara a violência e vai decapitando o status quo” enquanto em outra interpretação “a violência é algo já dado e mítico”.
Uma crítica bem-humorada, mas que também têm um ponto de interrogação ao final. “O Mário tem essa característica de começar os textos com bom humor e depois vão se tornando mais sérios. Ele cativa, mas coloca o espectador nessa condição de não só rir, mas refletir no final”, avalia o diretor. A crítica humorada é facilitada pelas caricaturas dos personagens, delineados a partir de uma linguagem de quadrinhos. “Os personagens são de forma caricatural e ágil”, diz. Ao todo, serão cerca de 55 minutos de encenação.

Além do autor

Depois de diversas encenações, além da direção e supervisão geral, a montagem que se diferenciar ao tentar tomar uma distância do universo visual e referencial do autor. “O Mário tem uma forma de escrita para si próprio, pois ele tem um time de ator, de diretor, puxando os personagens para uma levada mais irônica. Não descartamos isso, mas propusemos uma leitura que escape do universo visual e referência dele, dar uma leitura além da clássica do autor”, explica. Um desafio. “Quando as obras são fortes, não tem como muito sair da forma como o autor concebeu. A peça praticamente lançou o Mário fora de Londrina”, afirma Mendonça.

Serviço:
Medusa de Rayban – Estreia nesta quinta-feira (dia 17), às 20h30, na Vila Cultural Cemitério de Automóveis (Rua João Pessoa, 103-A). Ingressos: R$ 10. Informações: 3344-5998.

Elenco da peça é formado por nomes do teatro londrinense

Adriano Gouvella, Mário Sérgio Fragoso, Monalisa Chicarelli, Nadia Val, Rogério Costa e Sérgio Mello são os seis principais atores que participam da montagem: todos do cenário teatral londrinense. “São tarimbados, com experiência, atores que eu considero muito bons. E por serem do meio teatral de Londrina, é legal para a cidade”, diz o diretor Maurício Arruda Mendonça. O processo de seleção ocorreu em dezembro do ano passado e contou com a participação do supervisor geral do espetáculo Paulo de Moraes, que está no Rio de Janeiro e veio a Londrina para participar da escolha do elenco.
Depois de selecionados, os atores iniciaram o trabalho juntamente com o diretor, assim como os ensaios. O trabalho teve início mesmo em meados de janeiro. A peça estreia nesta quinta, na Vila Cultural Cemitério de Automóveis, e terá duas temporadas: de 17 a 27 de março e depois de 7 a 17 de abril, sempre quinta, sexta e domingo às 20h30 e aos sábados em duas sessões: 20h30 e 22h30. O projeto tem patrocínio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic).

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