ADEUS A ARY VIDAL
O único esporte que pratiquei com afinco e amor foi o basquete. Comecei ali por 1975. Tive grandes mestres que me ensinaram a arte do arremesso, do gancho, dos passes, do maravilhoso jogo coletivo e suas estratégias ensaiadas. E naqueles anos 70 tínhamos pouco ou nenhum conhecimento dos jogos dos americanos. Víamos esses craques apenas em olimpíadas quando EUA X URSS era uma guerra muito mais do que esportiva, na realidade, uma guerra ideológica. Mas não deixávamos de admirar o grande técnico Alexandr Gomelski, o baixinho que mandava nos gigantes soviéticos e davam um suador danado nos blacks americanos que, quase sempre levavam a melhor - e não ainda não eram os craques da NBA. Nossos heróis do basquete eram mesmos os jogadores brasileiros. Tínhamos sido bicampeões mundiais, e nomes como Kanela, Amauri Passos, Rosa Branca, Edson Bispo dos Santos e muitos outros, nos enchiam de orgulho.
Eu não perdia jogos da seleção brasileira no final da década de 70, uma época em que a Rede Globo realmente prestigiava o esporte e então em qualquer final de noite lá estavam meus heróis: Ubiratã, Helio Rubens, Marquinhos, Fausto, Carioquinha, Gilson, Adilson, Marcel, Mauri, Oscar, depois Guerrinha, Gerson, Paulinho Vilas-Boas, Israel, Cadum, Pipoca e tantos outros craques.
Senti muito a morte desse grande nome do esporte brasileiro. Senti mesmo. Hoje acho o basquete brasileiro meio sem emoção. Mas no tempo de Ary Vidal a coisa era outra. A camisa amarela pesava, a garra era enorme de cada um dos jogadores titulares e reservas.
Me lembro muito do campeonato mundial das Filipinas. Eu estava eletrizado por aquele time de astros. A NOSSA seleção de basquete. A transmissão por televisão não funcionava direito. As transmissões eram canceladas. Lembro-me de atravessar a rua de casa e ir ouvir os jogos no rádio (imaginem só!) na casa de madeira de meu amigo Helio Morimoto. Era tão emocionante que o radialista, acho que da Jovem Pan, gritava "Gol!" a cada cesta do Brasil. Na disputa da medalha de bronze contra Italia conseguimos assistir pela TV. Lá estava o Ary Vidal firme e forte, impassível comandando aqueles gênios da cesta: Carioquinha -nunca vi alguém controlar uma bola como ele, um jogar espertíssimo, veloz, que roubava a bola do adversario como um mágico e fazia aquelas surpreendentes pontes aéreas para Oscar enterrar - na época Oscar enterrava!; Marcel - desconjuntado, parecia sempre estar sem preparo físico, mas que arremessador, que inteligência; Oscar - sem dúvida um dos maiores jogadores da história do basquete; Gilson, forte e seguro nos rebotes; Marquinhos Abdalla, grande pivô, simplesmente um dos maiores jogadores do basquete brasileiro, pouco lembrado, um gênio, matador no garrafão. E revezando: Hélio Rubens, um mestre, uma seriedade e um arremesso à antiga com as duas mãos/pulsos; Fausto Gianecchini, armador seguro, inteligente, raçudo; e a lenda-viva Ubiratã, campeão em 1962, aquele que não marcava nenhum ponto, mas era o soberano da marcação e da defesa. E a frente desses gigantes, estava aquele careca de óculos, numa mistura de ar aristocrático com neurótico, um verdadeiro maestro, imperturbável, Ary Vidal. Um estrategista napoleônico, que acreditava que a melhor defesa é o ataque - e que como atacávamos! Erravamos muito, mas vencíamos muito. Não vou lembrar aqui a magnifica vitoria de Ary e do time no Panamericano de Indianapolis em 1987, quando acabamos com os norte-americanos dentro de casa. Quero lembrar meu encanto de garoto, o momento mágico que foi aquela cesta de Marcel no último segundo do jogo contra a itália no Mundial de 1978, em Manilla, acertando o arremesso quase do meio da quadra. Que alegria! Que magia! Sim, não quero lembrar do ouro, mas do bronze, humilde bronze, de que são feitas as estátuas. Ary Vidal certamente merece uma. Valeu, Ary. Aceite o agradecimento do torcedor menino por tantas jornadas inesquecíveis!
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1 Comentários:
mauricio me lembro muito bem como era bom pegar a bola correr como um louco, dar aquelas duas passadas largas, e sextar ...eu era pivo nessa trama do basquete ... bete
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