quinta-feira, 13 de maio de 2010

O OUTONO


LONDRIX

quando é outono
os galhos temem
que folhas
os deixem

sem pensar
gritamos
nada volta
só galhos
secos e folhas
junto à porta dos fundos
do lado do focinho do cachorro

assim
perguntamos
ao vizinho
“você tem
um serrote?”

agora
batendo na vidraça
“quer entrar?”
os galhos perdoam
o vento

ele é
um outro
sem falar
contempla:
é outono

nem
adianta
olhar o céu
e dizer
como os romanos

“as nuvens
são escamas”
ou
“parecem o rabo
de um galo”

felicidade:
dizer coisas
tão simples
como:
“galhos”
ou
“você vai
sair sem
o casaco?”


(do livro "Eu caminhava assim tão distraído" - Editora Sette Letras, Rio de Janeiro, 1997)

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