O BRASIL DE LONDRINA
Em setembro de 1934, uma partida de futebol pôs fim aos conflitos entre ingleses e os primeiros moradores de nossa cidade. Aqueles homens brasileiros por opção acabariam dando uma demonstração de amor pelo país e por Londrina.
Não eram poucos os que detestavam a metidez dos funcionários ingleses da Companhia de Terras. Era freqüente ver nossos colonizadores agindo com a arrogância tipicamente britânica, pois eles se sentiam os donos do mundo mesmo estando em pleno Norte do Paraná. Pra piorar, entre esses ingleses figuravam também os temidos “amansadores de índios”, brutamontes que haviam adaptado suas técnicas de “amansamento” do continente africano, onde escravizaram nações inteiras.
No princípio os conflitos entre moradores e funcionários eram resolvidos com uma conversa com o sisudo diretor da companhia inglesa, que pedia desculpas em nome de seus funcionários, geralmente os autores das confusões. Mas era um paliativo. De fato, naquele ano as brigas aumentaram muito e se tornaram violentas, ameaçando a harmonia do povoamento, exigindo que a Força Pública – representada por um sargento muito gordo e dois guardas muito magros – fizesse imperar a lei e a ordem.
Entretanto, certo dia, a situação tornou-se incontrolável. No terreno onde hoje está a catedral do Sagrado Coração de Jesus, os ingleses jogavam seu futebol. Segundo o costume, o jogo era no esquema 5 vira, 10 termina. E aí era obrigatório ceder o campo a outros times que porventura estivessem presentes para jogar. Naquele dia, os ingleses enrolaram a partida. Seus dois times de grandalhões branquelos não marcavam um mísero gol. Uma hora, um dos jogadores ficou cara a cara com o goleiro, driblou-o, mas, de propósito, chutou para fora, às gargalhadas. Isso foi suficiente para os que esperavam pelo fim da partida se revoltassem. Num segundo já havia gente invadindo o campo, vários empurra-empurras, então socos e pontapés. Os ingleses correram em massa para os bancos às margens do campo, pegaram suas armas e atiraram várias vezes para cima. A batalha campal cessou imediatamente. A arrogância dos ingleses havia triunfado novamente, deixando os moradores mordidos.
Foram os alemães que pensaram numa solução diplomática. Essa animosidade com os ingleses tinha de acabar para o bem de todos. Assim foi que tiveram a idéia de marcar um jogo de futebol entre os funcionários da companhia e os moradores de Londrina. A simples idéia dessa partida já agitava os brios das duas partes. Os ingleses, os inventores do futebol, achavam que ia ser barbada. Enquanto os londrinenses se entusiasmavam com o sonho de derrotar os ingleses prepotentes.
Exatamente em setembro de 1934 foi criado nosso primeiro esquadrão, que contava com onze craques pioneiríssimos: Ivan Gurienko, russo, o goleiro; os dois beques, Thadeu Kociusco, polonês; e Niels Rasmüssen, dinamarquês; os três meias: Santo Rampazzo, italiano; Michel Froissy, francês; e Hector Ontiveros, espanhol; na linha iam Otto Prijna, alemão; Takeo Sasano, japonês; Osório Teixeira, paulista; Laurindo Motta, mineiro; e Lico Sapato, alagoano. O técnico foi buscado na Warta. Era o senhor Jan Brozz, um tcheco, que foi professor de ginástica em seu país.
Daquela manhã esportiva quase não existem relatos. Sabe-se que toda a população da cidade estava lá, ao lado do campo, torcendo com fervor. Os ingleses entraram no campo de terra vermelha vestidos de branco, com lenços vermelhos no pescoço. Entraram munidos de espírito e bafo de whisky. Mas pareceram vacilar. Faziam lançamentos, ameaçavam com cruzamentos e cabeçadas. Mas por mais que tentassem, a bola de couro se recusava a tocar as redes de pescaria improvisadas na meta. Os londrinenses jogavam com fibra. Não se amedrontavam com as entradas violentas dos ingleses. Só pensavam em atacar. Os gols foram nascendo naturalmente: um, dois, três, até dez. Ao final da partida, com a dignidade dos perdedores, os ingleses cumprimentaram um a um dos jogadores. Desse dia em diante passaram a ser menos arrogantes. O que já era um alívio para a cidade.
Muitos estranharam que os metidos ingleses não demonstrassem raça naquela manhã futebolística. A história que se conta é que os ingleses amarelaram logo que puseram os pés dentro de campo. Teriam se assustado ao encarar o adversário, ao ver um bando de onze marmanjos vestidos como araras, trajando trapos remendados de verde, amarelo, azul e branco, e os retalhos de todas as cores das bandeiras dos países onde cada jogador tinha nascido, e que agora formavam a camisa de um grande time chamado: Brasil de Londrina.
Não eram poucos os que detestavam a metidez dos funcionários ingleses da Companhia de Terras. Era freqüente ver nossos colonizadores agindo com a arrogância tipicamente britânica, pois eles se sentiam os donos do mundo mesmo estando em pleno Norte do Paraná. Pra piorar, entre esses ingleses figuravam também os temidos “amansadores de índios”, brutamontes que haviam adaptado suas técnicas de “amansamento” do continente africano, onde escravizaram nações inteiras.
No princípio os conflitos entre moradores e funcionários eram resolvidos com uma conversa com o sisudo diretor da companhia inglesa, que pedia desculpas em nome de seus funcionários, geralmente os autores das confusões. Mas era um paliativo. De fato, naquele ano as brigas aumentaram muito e se tornaram violentas, ameaçando a harmonia do povoamento, exigindo que a Força Pública – representada por um sargento muito gordo e dois guardas muito magros – fizesse imperar a lei e a ordem.
Entretanto, certo dia, a situação tornou-se incontrolável. No terreno onde hoje está a catedral do Sagrado Coração de Jesus, os ingleses jogavam seu futebol. Segundo o costume, o jogo era no esquema 5 vira, 10 termina. E aí era obrigatório ceder o campo a outros times que porventura estivessem presentes para jogar. Naquele dia, os ingleses enrolaram a partida. Seus dois times de grandalhões branquelos não marcavam um mísero gol. Uma hora, um dos jogadores ficou cara a cara com o goleiro, driblou-o, mas, de propósito, chutou para fora, às gargalhadas. Isso foi suficiente para os que esperavam pelo fim da partida se revoltassem. Num segundo já havia gente invadindo o campo, vários empurra-empurras, então socos e pontapés. Os ingleses correram em massa para os bancos às margens do campo, pegaram suas armas e atiraram várias vezes para cima. A batalha campal cessou imediatamente. A arrogância dos ingleses havia triunfado novamente, deixando os moradores mordidos.
Foram os alemães que pensaram numa solução diplomática. Essa animosidade com os ingleses tinha de acabar para o bem de todos. Assim foi que tiveram a idéia de marcar um jogo de futebol entre os funcionários da companhia e os moradores de Londrina. A simples idéia dessa partida já agitava os brios das duas partes. Os ingleses, os inventores do futebol, achavam que ia ser barbada. Enquanto os londrinenses se entusiasmavam com o sonho de derrotar os ingleses prepotentes.
Exatamente em setembro de 1934 foi criado nosso primeiro esquadrão, que contava com onze craques pioneiríssimos: Ivan Gurienko, russo, o goleiro; os dois beques, Thadeu Kociusco, polonês; e Niels Rasmüssen, dinamarquês; os três meias: Santo Rampazzo, italiano; Michel Froissy, francês; e Hector Ontiveros, espanhol; na linha iam Otto Prijna, alemão; Takeo Sasano, japonês; Osório Teixeira, paulista; Laurindo Motta, mineiro; e Lico Sapato, alagoano. O técnico foi buscado na Warta. Era o senhor Jan Brozz, um tcheco, que foi professor de ginástica em seu país.
Daquela manhã esportiva quase não existem relatos. Sabe-se que toda a população da cidade estava lá, ao lado do campo, torcendo com fervor. Os ingleses entraram no campo de terra vermelha vestidos de branco, com lenços vermelhos no pescoço. Entraram munidos de espírito e bafo de whisky. Mas pareceram vacilar. Faziam lançamentos, ameaçavam com cruzamentos e cabeçadas. Mas por mais que tentassem, a bola de couro se recusava a tocar as redes de pescaria improvisadas na meta. Os londrinenses jogavam com fibra. Não se amedrontavam com as entradas violentas dos ingleses. Só pensavam em atacar. Os gols foram nascendo naturalmente: um, dois, três, até dez. Ao final da partida, com a dignidade dos perdedores, os ingleses cumprimentaram um a um dos jogadores. Desse dia em diante passaram a ser menos arrogantes. O que já era um alívio para a cidade.
Muitos estranharam que os metidos ingleses não demonstrassem raça naquela manhã futebolística. A história que se conta é que os ingleses amarelaram logo que puseram os pés dentro de campo. Teriam se assustado ao encarar o adversário, ao ver um bando de onze marmanjos vestidos como araras, trajando trapos remendados de verde, amarelo, azul e branco, e os retalhos de todas as cores das bandeiras dos países onde cada jogador tinha nascido, e que agora formavam a camisa de um grande time chamado: Brasil de Londrina.
10 Comentários:
Parabéns pelo blog, Mauricio.
grande abraço
Maurício, que tesouro esta história do "Brasil de Londrina". Esta foto é uma relíquia também.
Falando em Londrina, o suplemento de Turismo da Folha de São Paulo de ontem, 25 de março, foi dedicado a nossa querida cidade. Dá uma conferida: http://walterneyfotos.blogspot.com/2010/03/londrina-e-noticia-suplemento-turismo.html
abração
como sempre demais de bom teu texto Maurício, deu uma saudade de jogar bola, lembro sempre das peladas no campinho do vale verde, no final da rua os escoteiros, abração
Bacana, Yuri! É mesmo! Havia muita pelada nos velhos tempos em lugares maravilhosos como o vale verde. Abraço!
Obrigado, Walter Ney! Aliás você tá devendo um livro sobre o futebol em Londrina. Me disseram sobre a Folha de SP. Vou conferir! Abraço.
Bruka! Pô, meu que saudade! Como vai a guitarra? Jamais vou me esquecer de você me mostrando o Wes Montgomery tocando "Round about Midnight". Isso foi lá na tua casa do Jardim Hedy. Quando ouvi fiz cara de surpresa, e você disse, quase lendo o meu pensamento: "Estranhou a dinâmica da guitarra, hein?"
Adoro suas narrativas históricas.
você enche Londrina de honras.
Um beijO, Mauricio!
É mesmo, Maurício. Tenho rascunhos na gaveta sobre deliciosas histórias do futebol amador de Londrina, muitas delas presenciadas por mim, pois desde os meus 15 anos disputava campeonatos de "várzea". Foram muitas viagens na carroceria de caminhões para jogar em fazendas. Era época dos aspirantes e titulares...
abração
Oi, Maurício, fazia tempo que não entrava aqui. Muito legal essa história. Eu não conhecia e seu relato é muito bem feito, como sempre. Agora falando dos textos e das fotos mais recentes, está muito lindo o seu blog. E parabéns pela Isadora.
abraços
Oi, Carina!!! Poxa! Legal as suas palavras! É. Eu adoro contar histórias, especialmente sobre essa nossa cidade maluca! Você tem meu livro? Me dá um toque, please. Beijos!
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