José Antonio Teodoro, diretor de teatro
Sem dúvida, um dos nomes fundamentais da história do teatro londrinense é o do diretor do grupo Delta, José Antonio Teodoro (foto), falecido prematuramente em 1987 com apenas 34 anos de idade. Com uma carreira em ascensão e já despontando como um dos principais diretores jovens do país, Teodoro recebeu indicação para o prêmio Mambembe e arrebatou, no mesmo ano de 1987, o prêmio de Diretor Revelação concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), por sua encenação de “Toda Nudez Será Castigada” de Nelson Rodrigues.
A antológica montagem de “Toda Nudez” foi um acontecimento sem precedentes para o teatro da cidade. Foram mais de 100 apresentações incluindo temporadas em Londrina, São Paulo, Rio de Janeiro, além de representar o Brasil no Festival Latino de Nova York em agosto de 1986, e realizar excursões por México, Porto Rico, Portugal e Espanha. No Festival Latino de Nova York, o Delta teve casa cheia em todas as apresentações, sendo assistido por um público total de 2.500 pessoas. No final de uma das apresentações o Delta recebeu nos camarins o produtor Joseph Papp que, emocionado, queria cumprimentar o diretor e os atores. Papp foi o produtor de musicais clássicos da Broadway como “Hair” e “Chorus Line”, e naquele ano estava produzindo a peça “Cuba” protagonizada por Robert de Niro.
Sobre a experiência da temporada americana declarou José Antonio Teodoro à Folha de Londrina: “Sinto que a grande lição que esta excursão trouxe para todos nós reside no fato de fazermos teatro com poucos recursos econômicos, suprindo as dificuldades financeiras com criatividade. As cenas simples eram aplaudidas em plena peça.” E, de fato, a “Toda Nudez” do Delta obteve sucesso de público e crítica, com matérias elogiosas no The New York Post e Daily Mirror. A tônica era a surpresa da existência de um dramaturgo brasileiro tão perturbador e, principalmente, a qualidade artística do grupo Delta.
Meticuloso
Essa qualidade artística do espetáculo de Teodoro devia-se a seu cuidado com cada detalhe da montagem, e em boa parte, ao olhar cinematográfico do diretor que, a propósito de sua montagem de Nelson Rodrigues, comentava sobre as novas tendências do teatro praticado no final dos anos 80: “O teatro, após ter passado vinte anos discursando, entrou numa era de movimento. Há toda uma geração de diretores com formação cinematográfica, o que leva as montagens a uma maior agilidade.”
Estilo de trabalho
O ator Adriano Garib que fez o papel de Patrício em “Toda Nudez”, recorda-se do estilo do diretor: “A nós o Teodoro mostrou que é possível criar com alegria e liberdade. Seu humor, sua ironia elegante, seu acurado senso estético, seus conhecimentos de história, além de seu tesão de viver, faziam dele um artista apaixonado e pleno de entusiasmo – não só pelas artes cênicas, mas por toda a arte! Lembro-me bem que quando optava por um tema ou por uma personagem ou história, ou até por um sentimento qualquer que o intrigasse, fazia-o de forma quase inteiramente intuitiva, partindo para o trabalho sem tantos preceitos estabelecidos a priori. Gostava de "descobrir" a forma das coisas duramente nos nossos ensaios, liderando aquilo tudo com generosidade e interesse. Claro que ele tinha também os seus “coringas na manga”, como quase todo diretor que se preze. E sempre que, após algum suspense, revelava a nós os tais coringas, ficávamos encantados com a síntese, a originalidade e o poder artístico de suas idéias.”, lembra Garib.
Montagem memorável
Com “Toda Nudez Será Castigada”, Teodoro e o Grupo Delta receberam 3 prêmios no Festival de Franca-SP (1984); 7 prêmios no Festival de São José do Rio Preto (1985); 11 prêmios no Festival de São José dos Campos (1985); e 4 prêmios no Festival de Ponta Grossa (1985). Mais do que isso, o grupo Delta e José Antonio Teodoro foram responsáveis por colocar Londrina no eixo da história do teatro brasileiro. Tanto é que a mais recente edição das obras completas de Nelson Rodrigues, de 2004, publicada pela Editora Nova Fronteira (RJ), traz referência à montagem londrinense de “Toda Nudez”, considerando-a uma das mais importantes já feitas no país, e ainda inclui um texto de autoria do próprio Teodoro.
Estréia com o pé direito
José Antonio Teodoro começou a dirigir teatro despretensiosamente em 1978, com a montagem de “Os Filhos de Kennedy” de Robert Patrick. O grupo Delta então surgia com a simples intenção de preencher um vazio na Semana Cultural organizada em Londrina, pois nos últimos anos da década de 70, a cena teatral de Londrina estava praticamente adormecida, e mesmo a diretora Nitis Jacon ainda se encontrava em Arapongas, sua cidade natal, dirigindo o grupo Gruta. Com essa sua primeira montagem de “Os Filhos de Kennedy”, José Antonio Teodoro já começou com o pé direito, e o grupo Delta arrebatou o prêmio de Melhor Espetáculo no 5º FESTIN, Festival de Teatro de Toledo. O prêmio em Toledo era sinal de que a brincadeira tinha ficado séria e que o diretor estava no caminho certo. Teodoro não parou mais. Ele havia encontrado com sua grande vocação. Como ele disse uma vez em entrevista à Folha de Londrina: “Eu faço teatro mais em cima da emoção, do prazer.” E sintetizava sua forma de pensar: “o palco é uma tela de luz”; e o teatro perfeito, deveria obedecer a uma “pirâmide cênica” que combinasse visual, som e gesto.
Influências
Afora ser fã de Fellini e Woody Allen, a grande influência admitida por José Antonio Teodoro era a do diretor paulistano Antunes Filho, com seu teatro despojado e calcado no desempenho dos atores. Mas depois de “Os Filhos de Kennedy” (1978), viriam mais peças como: “O Interrogatório”, de Peter Weiss (1979); “O Milagre de Anne Sullivan”, de William Gibson (1980); “Papa Highirte”, de Oduvaldo Vianna Filho (1981); “O Santo Inquérito”, de Dias Gomes (1982); “A Residência”, de Maria Adelaide Amaral (1983); “Gota D´água”, de Paulo Pontes e Chico Buarque (1984); “Hello Boy”, de Roberto Gil Camargo (1984), e “Toda Nudez Será Castigada”, de Nelson Rodrigues (1984).
Legado
Teodoro foi um artista e um grande mentor intelectual. Quem teve o privilégio de assistir suas aulas de história sabe disso. Sempre elegante e educadíssimo, era possível perceber que se estava diante de uma pessoa especial, sensível e com muita emoção dentro de si. Mas foi na vida cultural de Londrina, no teatro, que sua generosidade artística deixou sementes. Pelas mãos de Teodoro passaram muitos atores e atrizes importantes para a cidade, como Donizetti Buganza, Ceres Vittori, Luis Cláudio Castello Branco, Adriano Garib, Wagner Donadio, Henrique Bonametti, Léa Albuquerque, Carmem Benedetti, Eulália Carvalho, Paulo de Moraes, Edna Aguiar, Gustav Lang, Regina Oliveira, André Lima, entre muitos outros.
Meticuloso
Essa qualidade artística do espetáculo de Teodoro devia-se a seu cuidado com cada detalhe da montagem, e em boa parte, ao olhar cinematográfico do diretor que, a propósito de sua montagem de Nelson Rodrigues, comentava sobre as novas tendências do teatro praticado no final dos anos 80: “O teatro, após ter passado vinte anos discursando, entrou numa era de movimento. Há toda uma geração de diretores com formação cinematográfica, o que leva as montagens a uma maior agilidade.”
Estilo de trabalho
O ator Adriano Garib que fez o papel de Patrício em “Toda Nudez”, recorda-se do estilo do diretor: “A nós o Teodoro mostrou que é possível criar com alegria e liberdade. Seu humor, sua ironia elegante, seu acurado senso estético, seus conhecimentos de história, além de seu tesão de viver, faziam dele um artista apaixonado e pleno de entusiasmo – não só pelas artes cênicas, mas por toda a arte! Lembro-me bem que quando optava por um tema ou por uma personagem ou história, ou até por um sentimento qualquer que o intrigasse, fazia-o de forma quase inteiramente intuitiva, partindo para o trabalho sem tantos preceitos estabelecidos a priori. Gostava de "descobrir" a forma das coisas duramente nos nossos ensaios, liderando aquilo tudo com generosidade e interesse. Claro que ele tinha também os seus “coringas na manga”, como quase todo diretor que se preze. E sempre que, após algum suspense, revelava a nós os tais coringas, ficávamos encantados com a síntese, a originalidade e o poder artístico de suas idéias.”, lembra Garib.
Montagem memorável
Com “Toda Nudez Será Castigada”, Teodoro e o Grupo Delta receberam 3 prêmios no Festival de Franca-SP (1984); 7 prêmios no Festival de São José do Rio Preto (1985); 11 prêmios no Festival de São José dos Campos (1985); e 4 prêmios no Festival de Ponta Grossa (1985). Mais do que isso, o grupo Delta e José Antonio Teodoro foram responsáveis por colocar Londrina no eixo da história do teatro brasileiro. Tanto é que a mais recente edição das obras completas de Nelson Rodrigues, de 2004, publicada pela Editora Nova Fronteira (RJ), traz referência à montagem londrinense de “Toda Nudez”, considerando-a uma das mais importantes já feitas no país, e ainda inclui um texto de autoria do próprio Teodoro.
Estréia com o pé direito
José Antonio Teodoro começou a dirigir teatro despretensiosamente em 1978, com a montagem de “Os Filhos de Kennedy” de Robert Patrick. O grupo Delta então surgia com a simples intenção de preencher um vazio na Semana Cultural organizada em Londrina, pois nos últimos anos da década de 70, a cena teatral de Londrina estava praticamente adormecida, e mesmo a diretora Nitis Jacon ainda se encontrava em Arapongas, sua cidade natal, dirigindo o grupo Gruta. Com essa sua primeira montagem de “Os Filhos de Kennedy”, José Antonio Teodoro já começou com o pé direito, e o grupo Delta arrebatou o prêmio de Melhor Espetáculo no 5º FESTIN, Festival de Teatro de Toledo. O prêmio em Toledo era sinal de que a brincadeira tinha ficado séria e que o diretor estava no caminho certo. Teodoro não parou mais. Ele havia encontrado com sua grande vocação. Como ele disse uma vez em entrevista à Folha de Londrina: “Eu faço teatro mais em cima da emoção, do prazer.” E sintetizava sua forma de pensar: “o palco é uma tela de luz”; e o teatro perfeito, deveria obedecer a uma “pirâmide cênica” que combinasse visual, som e gesto.
Influências
Afora ser fã de Fellini e Woody Allen, a grande influência admitida por José Antonio Teodoro era a do diretor paulistano Antunes Filho, com seu teatro despojado e calcado no desempenho dos atores. Mas depois de “Os Filhos de Kennedy” (1978), viriam mais peças como: “O Interrogatório”, de Peter Weiss (1979); “O Milagre de Anne Sullivan”, de William Gibson (1980); “Papa Highirte”, de Oduvaldo Vianna Filho (1981); “O Santo Inquérito”, de Dias Gomes (1982); “A Residência”, de Maria Adelaide Amaral (1983); “Gota D´água”, de Paulo Pontes e Chico Buarque (1984); “Hello Boy”, de Roberto Gil Camargo (1984), e “Toda Nudez Será Castigada”, de Nelson Rodrigues (1984).
Legado
Teodoro foi um artista e um grande mentor intelectual. Quem teve o privilégio de assistir suas aulas de história sabe disso. Sempre elegante e educadíssimo, era possível perceber que se estava diante de uma pessoa especial, sensível e com muita emoção dentro de si. Mas foi na vida cultural de Londrina, no teatro, que sua generosidade artística deixou sementes. Pelas mãos de Teodoro passaram muitos atores e atrizes importantes para a cidade, como Donizetti Buganza, Ceres Vittori, Luis Cláudio Castello Branco, Adriano Garib, Wagner Donadio, Henrique Bonametti, Léa Albuquerque, Carmem Benedetti, Eulália Carvalho, Paulo de Moraes, Edna Aguiar, Gustav Lang, Regina Oliveira, André Lima, entre muitos outros.
José Antonio Teodoro faleceu em 4 de agosto de 1987, no começo de uma carreira teatral que prometia ser marcante. O vazio que seu desaparecimento deixou na vida cultural foi fortemente sentido pela comunidade. Porém, Teodoro não partiu sem antes ter conquistado para Londrina um lugar no teatro brasileiro, e formado vários artistas que, nos anos seguintes, povoariam os palcos da cidade e do país.
8 Comentários:
Bonita lembrança!
Sim, o Teodoro afora ser um super artista foi inspirador de muita gente boa. Até hoje me surpreende que ele tenha partido com 34 anos.
Meu mestre meu amigo, minha inspiração exemplo de profissionalismo e dedicação.
O espetáculo deve e vai continuar.
obrigado Théo.
Geisa Costa
É mesmo. Teodoro era um grande artista e mestre que nos influenciou muito. Tive a honra de integrar o conjunto musical em sua montagem de Gota D água nos idos de 1983. Saudades grande desse cara! Abraço.
Esse é o tipo da coisa que deve ser sempre lembrada.
Theo foi tudo isso e mais um pouco e me sinto orgulhoso de ter feito parte disso tudo
luiz Castelo Branco
...Teodoro, um artista da vida, um mestre na arte de ... "ser" ... de compartilhar, do aglutinar e realizar. Sato
Como esquecer um professor maravilhoso como ele? Suas aulas de história faziam com que viajássemos no tempo. Ele nos envolvia com o quê acontecia nos "bastidores" dos fatos, prendia a nossa atenção para detalhes sobre o comportamento daqueles que escreviam a história e que teriam seus nomes imortalizados. Piadas, gracejos, faziam parte da aula e mostravam um outro lado da moeda que os livros jamais contavam. Teodoro imortalizou-se para nós, seus alunos, que tivemos a feliz oportunidade de ouvir a verdadeira história contada por ele!
Tive o privilégio de tê-lo como mestre. Saudades!!!
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial