segunda-feira, 13 de abril de 2009

Dia de Demissão


Certo dia o Chefe decidiu intimidar um de seus empregados: “– Meu funcionário se encheu de soberba! Fez um destrato comigo e faltou ao emprego sem avisar! Eu sempre jogo limpo!” Isto o Chefe jamais poderia admitir em sua longa trajetória de sacrifícios e conquistas pessoais. Era demasiado irritante, logo aquele obtuso funcionário que, por condescendência, em quinze anos estaria recuperado através de sua disciplina e terapêutica salarial. E o Chefe, de acordo com sua justiça, resolvia dar-lhe um arroxo acusando-o de mentiroso, no fundo só para ter o gosto de ver o empregado tremer feito vara verde. Assim conseguiria retomar as rédeas do controle, da ordem e progresso do Escritório. Caso contrário, o poder do Chefe se esfacelaria, a empresa se revoltaria, e um vacilo de personalidade se implantaria no coração dos demais funcionários feito uma praga. Mas não seria nada muito sério. Na verdade, tudo não iria passar de um espetáculo, no qual a discrição dos elementos, a ausência de pompa, salientaria o caráter austero de sua voz, de seus gestos, de seu olhar fixo na testa do infrator, de seu poder de esmagar alguém com as próprias mãos. Era só uma burla para que ele, o Chefe, pudesse rir do funcionário horas mais tarde pelo resto da vida. Rir daquele medo estampado na face, daquela dependência servil do salário, daquela repugnante e ciosa subserviência: não há nada mais engraçado do que um rato molhado de urina. Aquele chamado inesperado do Chefe na manhã lhe soara estranho. Era o primeiro dia de trabalho após o casamento do empregado. Então ele baixou os olhos por um segundo tentando respirar enquanto os colegas do Escritório riam gulosamente ao seu redor.

(Escrevi esse pequeno conto no glorioso ano de 1996.)

2 Comentários:

Às 14 de abril de 2009 às 08:48 , Blogger Marcos Martins. disse...

sem puxar o saco, mas ....continua a história as tardes estão mais legais abçs.

 
Às 14 de abril de 2009 às 09:24 , Blogger Maurício Arruda Mendonça disse...

Vou escolher umas histórias de londrina pra colocar, marquinhos. Valeu!

 

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